11/09/2024
O suicídio alheio me é um horror, enigmático espanto, enquanto que a sugestão do suicídio próprio é fermentada, vagamente, encostada alhures, sob o rito dorido e tácito de motivações que se veem nobres e me vem repassada de símbolos singulares, porque seria um suicídio diferente… sem horror, sem escândalo, fim absurdo em fumegar no apogeu da juventude.
Talvez essa ideia fixa latente seja um mero subterfúgio em meio à pobreza cotidiana. Há o dever que oprime, há a noção de que estou condenado a ter que viver e de que isto é um pesadelo. Mas há também outra coisa, pano de fundo até mesmo da ideia de suicídio: o sentir não poder me suicidar, baseado em não sei quê.
Não me regenero, não vislumbro salto, não sou apto à conduta, de peito pleno, de aproveitar o mundo no intervalo da finitude. Com a mesma falta de fé para o que edifica, olho para a corrente frenética do que é rasteiro e prosaico, porque o que era tido como esteio e consumado se mostrou tão frágil, e o desenrolar próprio das coisas parece compor uma grande ironia em tudo que é destino.
Sei que o suicídio se me esgueira, neste cenário infausto, não por ser luta de vida e morte, ou mesmo promessa de alívio. Não há embate, pois já fracassei de pressuposto, e com a mesma falta de fé para o que edifica, olho para a corrente frenética do que é rasteiro e prosaico, olho para tudo e nego a negação, mesmo que isto implique prolongamento inconveniente e aborrecido deste estar anulado. O amanhã é uma extensão incontornável de angústia. Que venha!, sinto que nos singelos e curtos entreatos dos espetáculos grotescos respirarei ar puro.